Eu nunca vi olhos brilharem da forma que as pessoas dizem que acontece. Nunca pude ver através deles, e nunca pude consumi-los com os meus. Tudo isso mudou quando encontrei duas bolinhas de gude no rosto de um certo alguém. Elas emitiam brilho próprio, como se tivessem roubado a magnitude das estrelas e guardado em recipientes oculares. Quando um cílio beija o outro o mundo congela por um instante, aguardando pacientemente o momento em que eles vão se separar e revelar aquela imensidão negra que as pálpebras as vezes escondem tão bem. Poderia olhar para eles por séculos que não me cansaria, a não ser que minha atenção fosse desviada para os lábios que se abririam em um sorriso, e depois de corar eu viraria o rosto para não me perder em pensamentos que apenas eu conheço. Eu adoraria vê-los fechar após um boa noite e abrir para poder dizer bom dia, encara-los e tentar gravar cada sentimento que eles passam, decifrar cada segredo e ideia que eles ocultam. Será que todos são capazes de ver esses olhos com o mesmo fervor que eu vejo? Será que todos sentem o mesmo? São acolhedores e apavorantes, e eu agradeço a o que quer que seja por ter colocado aquelas bolinhas de gude ali.
