[texto] Mudar

Imagem relacionada
Se eu fosse feita de porcelana não seria tão frágil assim. Meu corpo não consegue esconder meus sentimentos, pois ele é tão transparente que parece que visto alma. É impossível caminhar sem tropeçar em minhas lágrimas, sem derrubar meu cacos no chão. Já não sei mais qual direção seguir porque tudo que eu conhecia se renovou. É como se as pessoas fossem desenhadas a lápis e a qualquer momento são corrigidas até se tornarem apenas borrões do que eram. E o que eram era bom. Por mais que a vida nos de escolhas algumas coisas acontecem simplesmente porque devem acontecer. Meu coração partido está cegando meus pensamentos, tornando tudo tão escuro aqui dentro como está lá fora. As sombras que me perseguiam se escondem pois hoje sou eu que durmo debaixo da cama dos monstros. O que será de mim? Talvez as portas e janelas estejam trancadas e é por isso que não encontro feixes de luz. Mas como vou destrancar se não consigo ver onde estão? Me libertar não é viável no momento e por isso peço aos céus que me ajudem para que eu possa enxergar no escuro antes que seja tarde demais. Não quero perder quem sou, não quero ser corrigida e transformada. Quero ser um rascunho até que meu papel envelheça, quero morrer sem que borrachas tentem machucam minha alma. Esses traços finos e imperfeitos são tudo que tenho e sou, mas mesmo assim me entrego a artistas e os deixo desnudar meu coração. Mas porque quero sair dessa caixa se aqui é tudo mais seguro? Nada entra, nada sai e meus sentimentos ficam guardados​ mesmo que pra isso eu sinta frio. Devia permitir que a escuridão me consuma para poder crescer. Sem asas eu viveria rastejando no chão e sem esperança não haveria nenhuma expectativa que me incentivaria a voar. Dessa forma eu seria mais forte, consistente. Mas só o que resta é esperar. Deixar que o tempo me encontre e com sorte me resgate. Me resgate desse destino de ser a escultura ideal de um humano qualquer em um mundo de perfeições onde sentimentos bons são imperfeitos demais pra serem​ aceitos.